SWR BARROSELAS METALFEST 2025: A cruzada etílica dos guerreiros do aço (PART II)
Por João Nox
Imagem por Diogo Azevedo
13 – Maio- 2025
Das profundezas do mato, os metaleiros emergem das suas tendas, ressacados e porcos, para mais dois dias de abuso sonoro. Mas primeiro convém tomar banho e esfregar bem as bordas todas. Um bom mosh pit cheira a Pantene ou Loreal, só cheira a sovaco na última música.
Antes das bandas, aconteceu o clássico Brutal Soccer patrocinado pelos nossos amigos da Mosher. Como sou mais adepto de cerveja do que futebol, fiquei pelo acampamento, mas ouvi dizer que este ano não foram os Wanderer a ganhar a taça, porque também não jogaram. Há que dar oportunidade aos outros.
O segundo dia começou da mesma forma que o primeiro acabou, com uma banda do ESTEVES (ou seria assim se os TEST não tivessem saltado para cima da bilheteira). Os portugueses Idle Hand abriram o segundo dia de Barroselas com o seu estilo próprio de stoner doom que está a ter um enorme sucesso.
Com apenas um EP, os Idle Hand já correram o país e dão sempre excelentíssimos concertos que só falham porque eu quero que toquem mais, mas eles não têm mais músicas (para já).
Eu próprio não tenho a certeza quantas vezes já os vi ao vivo, mas continua a ser um bom investimento do meu tempo.
Uma autêntica machadada no focinho para começar bem o dia, até incluiu um cover da “Procreation of the Wicked” dos Celtic Frost.








Seguiu-se mais uma banda nacional, os lendários Dokuga, campeões do crust punk português. Uma banda que não precisa de introdução para quem já anda nisto há alguns anos. Se és fã de punk do mais porco e cru que há por aí, Dokuga tem que estar na tua lista de concertos.
O palco principal abriu com os franceses Profanation e o seu death metal de esmagar crânios. Foi dos melhores concertos do dia, ouvi dizer, não sei, este infelizmente passou-me ao lado e é dos que mais me custou perder. Não se pode ter tudo na vida.
Quando voltei, os espanhóis Nashgul estavam a incendiar o palco 2 com o seu grindcore fodido. Mais uma banda que já vi várias vezes e vale sempre a pena. Deve haver alguma poção mágica na Galícia que faz com o pessoal daquela zona sejam autênticos feiticeiros do grindcore.
Para quem gosta de curiosidades interessantes, o baixista desta banda “Luis Sendón” é o responsável pelos cartazes lindíssimos do Barroselas, assim como vários logos e capas de álbum que por aí andam.








O palco principal escureceu com a chegada do Black Thrash dos noruegueses Aura Noir. Uma banda familiar em Barroselas, a banda mais feia do mundo, dizem eles, muito felizes por tocarem para a audiência mais feia.
Foi um bocado como o concerto de Gehennah no dia anterior, com mais satanás e menos álcool.






Quando voltei ao palco, estava a começar o Black Metal bizarro dos Dødheimsgard. Uma banda old school do gênero que decidiu virar-se para o Avant-garde e levar a sua música a outro nível.
Já não tocavam em Portugal há 26 anos e as saudades do público eram palpáveis. Até saiu um artigo no Expresso para assinalar a ocasião. Eu até tinha lido essa publicação, mas pediram-me pra subscrever, só um parágrafo ou dois é que eram de borla.
Pessoalmente não compreendo o hype. Estava curioso para ver a banda pois sou grande fã do seu EP de 1998, “Satanic Art”. Mas não senti a música dentro de mim, só senti saudades dos cachorros da barraca mexicana.
O que se passou a seguir no palco 2 foi muito mais agradável para os meus ouvidos, apesar de já terem tocado em Barroselas nos tempos do FEAST!










A aliança germano/espanhola dos Sijjin veio mais uma vez dar uma coça de death/thrash no público de Barroselas. Um público que os recebeu com muito amor. Sem dúvida um concerto que vale sempre a pena ver, e também comprar t-shirts porque o logo deles é extremamente estiloso.





De volta ao palco principal para assistir à banda que mais me surpreendeu quando foi confirmada para tocar no SWR, os lendários alemães pioneiros do goregrind, GUT!
Para quem não está a par, os GUT tocaram em Barroselas na edição de 2006 e houve algum atrito entre a banda e a organização. Não sei os detalhes, mas durante muitos anos, esta era a banda que os Veigas juraram que nunca mais (ao contrário de Comme Restus que são convidados todos os anos).
Já tinha os tinha visto no XAPADA e foi festão. Desta vez nem por isso. Apesar de não ter sido mau, não atingiu os níveis de loucura de concertos como Gutalax ou Jig-Ai em edições anteriores, bandas que foram inspiradas nos GUT.
Além disso, o vocalista “Spermsoaked Consumer of Pussy Barbecue” (ou Olli Roder se preferirem) estava claramente a cagar-se para este concerto e não estava a ser subtil. Parecia que uma nuvem de peido estava a seguir o nariz dele para todo o lado. Mesmo assim, no final do concerto foi bastante afável para com os fãs que tentaram falar com ele na linha da frente.




Para contrastar com esta atitude, os deuses do Heavy Metal enviaram os belgas Butcher para testar os guerreiros do aço de Barroselas.
Assim que vi o vocalista a chegar ao palco com uma garrafa de Jack Daniels, coberto de sangue e pregos, sabia que estávamos prestes a morrer no pit. Este concerto foi a personificação do aço e o público de Barroselas mostrou-se mais do que à altura para esse desafio. Até um bocado demais, a própria banda foi surpreendida por um gajo que foi surfar no público sem música. Mas todos sabemos que o que ele queria era mais Jack Daniels (sim, o whiskey era para todos). Foi dos melhores espetáculos do Barroselas este ano, facilmente top 3.
Terminado o último concerto da noite, chegou a altura de ir dizer olá ao Vítor da Chaotic Therapy no after-party, mas espera! Tu já vais dormir? Achas que já acabou porque não há mais bandas no horário?
Imbecil! Obviamente que os TEST vão tocar à porta do After-Party antes de começar a festa do Vitor… E se achas que este duo fica por aqui, estás muito redondamente enganado.
A noite de facto terminou com o after-party da Chaotic Therapy onde se celebraram 25 anos de Barroselas ao som de bandas que já passaram pelo festival ao longo dos anos. O Vitor até arranjou um projetor para mostrar os logos das bandas que estavam a tocar. Contou também com 4 seguranças privados de óculos escuros que impediam o povo de chatear o Vitor com pedidos para passar música de merda. Apesar disso, passou a “Fear of the Dark” porque Deus assim quis.


Último dia do Barroselas! Última oportunidade de enterrar o fígado e desfazer o corpo no mosh pit. Começou bem com os portugueses Utopium, uma banda de grindcore que eu perdi neste mesmo palco em 2013, quando ganharam a batalha do Wacken.
Depois deste concerto, arrependo-me de não os ter visto nessa altura pois foi um excelente começo de dia em Barroselas. E o baixista da banda, o Deris, é uma daquelas personagens (como o Esteves) que serve como selo de qualidade garantida numa banda. Se ele está em palco, é porque se vai partir tudo. Que saudades de “Revengeance”.







Daqui para a frente, foquei-me mais em cerveja e convívio do que em bandas e o tempo diluiu-se. Tenho pena de não ter apanhado Black Curse, uma banda com membros de Blood Incantation que muitos disseram que foi dos melhores.
Voltei ao palco a tempo de ver mais uma banda Old school de Black Metal bizarro, os noruegueses Ved Buens Ende. Nunca pensei ver esta banda ao vivo, lançaram um álbum em 1995 e é o fim da história até que se lembraram de dar concertos depois do Covid.
O lendário Written in Waters é sem dúvida um marco histórico e influente do Black Metal. Mas ao vivo não me puxou tanto como em estúdio. Talvez pela sonoridade mais melancólica e ambiental. Por outro lado, apreciei mais este Black Metal estranho do que o dos Dødheimsgard.
Apesar disso, o povo adorou as duas bandas e foi um dos momentos altos deste SWR. Até para quem ficou a dormir na tenda.




Para acordar toda a gente de novo, chegaram os espanhois Avulsed, um clássico do Death Metal ibérico que faz parte da história de Barroselas. Depois dos devaneios psicadélicos do avant-garde, nada como uma xapada não lubrificada e repentina de puro Death Metal à moda antiga. E foi exatamente isso que o Dave Rotten trouxe para todos, assim como de todas as vezes que vejo esta banda.
Uma receita perfeita para injectar energia depois da onda depressiva dos noruegueses, Avulsed limpou o chão com o povo de Barroselas, pela quinta vez. Espero que voltem sempre.
De volta ao palco principal para honrar a memória do William Wallace com os Escoceses Hellripper. Foi como o concerto de “Butcher” mas com mais cocaína no sistema. Ou seja, foi um festão imenso, com bodes e muita velocidade.
O baterista dos Hellripper não compreende o conceito de travões ou de abrandar, o que serviu perfeitamente ao público que abandonou estas noções logo na primeira música. Seriam precisas várias cervejas ou red bulls para aguentar a velocidade do mosh pit e reflexos de gato para evitar a chuva de gajos a atirar-se do palco, a música cada vez mais rápida.- Mais uma banda que vai diretamente para o top 3 desta edição do Barroselas.









Os finlandeses Concrete Winds tocaram de seguida no palco dois e devo dizer que esta banda escolheu muito bem o seu nome, pois este concerto foi o equivalente a levar com um tornado de cimento nas bentas.
Uma mistura esotérica de grindcore e death metal com o objetivo de estraçalhar os nervos do ser humano através de vibrações sónicas. Nem me lembro se existiu mosh pit ou não, só sei que a minha cara ficou dormente e o meu cérebro cheio de nós depois de levar com esta banda em cima. Isto é um elogio.
Infelizmente perdi o concerto dos suecos Unleashed. Há uns anos tocaram por aqui e toda a gente que viu esse concerto diz que foi uma desilusão. Mas será que voltou a ser? Ouvi dizer que desta vez foi bom. Melhor para os fãs. Os ventos de cimento deixaram-me destruído.
Mas apesar disso, ainda houve forças para ir ver a ÚLTIMA banda, uma banda que eu não via ao vivo há mais de 20 horas. Uma banda que ninguém estava à espera, a não ser desta vez.





Finalmente no horário e num palco a sério, os brasileiros TEST voltaram para tocar o seu grind de esquina para os guerreiros do Aço.
Ao longo do festival, fizemos imensas piadas sobre os vários locais onde os “TEST” iriam tocar a seguir. Na tua tenda, nos balneários, dentro das sanitas, em pacotes de noodles, em latas de atum. Uma amiga minha até sonhou com os TEST no segundo dia do festival, provando que até o inconsciente é uma venue viável para os TEST!
Este duo do grindcore mostrou mais uma vez a sua mestria musical, não é qualquer banda que enche a casa 3 vezes num fim de semana, mas apesar de ser o terceiro concerto, a audiência só crescia a cada repetição.
No entanto, houveram algumas partes do concerto em que parecia que estavam a trollar o povo, com build-ups longos, pontuados com alguns segundos de blast beats ou puro silêncio.
Os testículos colectivos do mosh pit ficaram ligeiramente azuis, mas durante a tarde do dia 3, começaram a surgir rumores sobre um festival secreto dentro do festival.





É verdade, depois de acabar a última banda do Barroselas 2025, surgiu um festival espontâneo dentro do festival, onde basicamente qualquer banda que se encontrasse na audiência, tinha a oportunidade de tocar em BARROSELAS!!!
E assim foi, as seguintes bandas atuaram numa ordem que eu não sei dentro do recinto, entre os dois palcos e todas foram um festão do caralho:
Os lendários Holocausto Canibal, os Bracarenses “Capela Mortuária”, o trio punk feminino “Queimada”, os portuenses “Itami” e ainda uma aparição dos “Vai-te Foder”!!! Para minha grande tristeza, os “Repugnator” cancelaram tocar neste evento devido a serem quatro da manhã no último dia do Barroselas e deviam estar no mesmo estado que eu.
E acaba assim, com um enorme estrondo, uma edição do SWR Barroselas Metalfest, para sempre no meu coração e no de todos que já arriscaram a vida a ver concertos na linha da frente do abismo.
Agora descansem o fígado porque o Aço é eterno e pró ano há mais.
