Verbian, homens de poucas palavras.
Texto por Maria João Ferreira
Imagem por Diogo Azevedo
18 – Março – 2025
Depois do sucesso de Jaez (2019) e Irrupção (2021), Verbian lançam CASARDER no próximo dia 21 de Março pela Lost Future Records, que estará disponível em forma de LP (edição limitada, já em pré-venda) e em formato digital.
CASARDER fala-nos sobre evolução e da condição artística, retratando temas como crítica social, crítica pessoal e idealização de medos, com poucas (mas boas) palavras. Um disco complexo, com muitas nuances e detalhes, que deixa espaço à imaginação.
A entrada de Guilherme Gonçalves (bateria) na composição traz influências quentes a CASARDER, Alexandre Silva (baixo e sintetizador) causa em nós uma sensação de entusiasmo quasi-adolescente através dos seus riffs e Vasco Reis (guitarra e sintetizador) traz-nos as suas visões de um futuro que ainda não foi imaginado.



Se me perguntarem, vejo este disco como uma viagem às entranhas do Artista, ou no caso, dos Artistas.
Verbian levam-nos numa viagem de crítica pessoal e social e do descobrimento artístico, questionando a evolução numa perspetiva surrealista. “Marcha do Vulto”, o primeiro tema do álbum, que de certa forma anuncia o que podemos esperar do resto da viagem: “E é sempre tudo à vossa mercê! Vemos arder! Vemos arder!”.
Somos levados até ao segundo tema, “Fruta Caída Do Mar”, onde somos surpreendidos por uma voz robótica numa conversa sobre egocentrismo e trazendo um apelo a sermos mais humanos, ir além da superfície e explorar mais profundamente todas as questões. “Are you real? I try to be.” é o mote. A curiosidade levou a melhor de mim e fui ouvir o sample original, que se trata de uma entrevista de rua, transformada em meme. Se até aqui ouvíamos notas futuristas através dos arranjos de sintetizadores, agora é-nos introduzida a crítica, a questão: a insegurança humana, a superficialidade do ser humano e a sua própria realidade. A intensidade aumenta.




“Depois de Toda a Mudança” traz consigo um poema que fala sobre o ciclo da vida e que se fecha novamente em si mesmo, como um ouroboros, falando dos desgostos de existir, da dor de ser e da lei divina. Um poema gritado, trazendo uma raiva na procura incessante de um significado. Curiosamente, Depois de Toda a Mudança, Nada Muda. É a mensagem que Verbian nos traz de uma forma bastante clara: o título do quarto tema é esse mesmo “Nada Muda” e não existe pausa entre os dois temas, para os mais distraídos estes dois temas podem ser percebidos como um só. Este tema começa com a voz de Francis Ford Coppola a dar conselhos, numa entrevista em 1994, sobre o melhor trabalho de um artista e sobre como o Artista deve ter coragem para enfrentar as críticas ao seu trabalho.
“The stuff that’s your best idea or work is going to be attacked the most. So you have to really be courageous about your instincts and your ideas, because otherwise you’ll just knuckle under and change it. And then things that might have been memorable will be lost.” – Francis Ford Coppola
Talvez o tema mais melódico do disco, que surpreende com um crescendo de esquizofrénico até chegar aos recantos mais pesados do post-metal.



“Pausa entre dias” é o tema onde os sintetizadores e guitarra nos trazem um sentido de urgência sombria, mas a bateria nos traz um quentinho à alma, quase um abraço. Totalmente instrumental, é o tema do álbum onde vejo mais laivos de “Jaez”, o primeiro álbum da banda, mas com mais maturidade; A urgência é a mesma, a de transformar as entranhas num álbum e mostrá-lo ao mundo, mas em CASARDER já vemos um corpo conceptual e instrumental mais completo e mais complexo – numa analogia maquiavélica do descobrimento da vida adulta e das suas responsabilidades e consequências. A intensidade aumenta.
Segue-se “Vozes da Ilha”, que começa de forma pausada e tranquila, dando ribalta ao baixo e à bateria até entrar o riff de guitarra e sintetizadores, que se completam num equilíbrio delicado. É o penúltimo tema do disco e conseguimos sentir o calor de uma explosão que está para vir.
E essa explosão é “Não Vá O Diabo Tecê-las”, é o tema que se aproxima mais do metal que há na banda, cheio de riffs icónicos e a ansiedade que sentimos até aqui é substituída pela raiva – Dizem que a ansiedade é uma emoção que esconde outras emoções e se é esse o caso de CASARDER, neste último tema do disco, sentimos a raiva escondida. Raiva essa que sentimos no primeiro tema também: “E é sempre tudo à vossa mercê! Vemos arder! Vemos arder!”. Se no início do disco era essa a mensagem, aqui já arde.



CASARDER é um disco obrigatório de ouvir a todos os fãs de música pesada. Para quem gosta de metal, hardcore, punk, stoner, doom e todos os seus subgéneros. É um disco de se ouvir sem ideias pré-concebidas, com a humildade de quem desconhece as entranhas do Artista, mas de quem quer descobrir.
Não são sete faixas, é uma longa viagem aos escombros mais sombrios da mente do Artista. Delicado, mas complexo; transparente, mas ansioso; Matemático, mas surrealista. Conta uma história sonora, monta a paisagem e traz-nos a poesia. Que mais poderíamos pedir?
A capa é uma pintura a óleo de Madalena Pinto que descreve visualmente todas estas distopias internas ao Artista.
A ver ao vivo no dia 21 de Março, no IODO (Rua Justino Teixeira, 601, 9A – Porto) numa apresentação com convidados, dia em que o disco fica disponível nas plataformas digitais.